Category Archives: Funcionamento dos mercados

Re-estabelecimento de comerciantes no Mercado

foto de Pedro Figueiredo

Comunicado de imprensa

O Movimento Mercado Bom Sucesso Vivo vem por este meio tomar posição sobre a forma como a Mercado Urbano, apoiada pela Câmara do Porto, está a tratar os vendedores que pretendem manter as suas bancas de mercado tradicional no espaço proposto pelo projecto daquela empresa. Ao contrário do que tem sido propagandeado pela CMP, não há de facto lugar para qualquer tipo de continuidade para os vendedores do mercado tradicional de frescos como ele é normalmente concebido. Nem mesmo tratando-se de recuperar apenas 44 bancas das iniciais 140.

Segundo as declarações dos próprios ex-vendedores à imprensa há vários casos que o comprovam. No caso de uma loja de 90 m2 que pagava mensalmente à CMP 500 euros, a Mercado Urbano pede agora cinco (5) vezes mais de renda mensal: cerca de 27 euros/m2, ou seja 2500 euros de mensalidade… No caso de um talho que pagava mensalmente à CMP 600 euros, a Mercado Urbano pede agora cerca de 30 euros/m2, ou seja 2000 euros de mensalidade… Os horários exigidos pela Mercado Urbano são também restritivos já que a abertura às 9h00 é tardia para as funções de retalho e venda por grosso.

Estas rendas high-cost que a Mercado Urbano está a propor aos ex-vendedores do Bom Sucesso impedem na prática a sua continuidade no espaço, uma vez que por evidente falta de meios se vêm obrigados a recusar essa solução. Solução que contrasta fortemente com as facilidades e benefícios fiscais que envolvem o negócio low-cost efectuado à margem de qualquer ética entre a CMP e o promotor: uma renda mensal da Eusébios à CMP de apenas 3750 euros (durante 50 + 20 anos), segundo dados oficiais; isenção de imposto IMT concedida pelo Ministério das Finanças em resultado da manobra da classificação do edifício enquanto património municipal, em Dezembro de 2009.

A desproporção entre os valores exigidos aos vendedores e os valores acordados entre a CMP e a Mercado Urbano atingem este patamar de escândalo público. O Movimento faz do protesto não um fim em si-mesmo mas apenas o começo de uma nova proposta pública que englobe a manutenção do Mercado no âmbito das políticas públicas municipais, como é prática corrente na generalidade dos mercados de frescos tradicionais em Portugal.

Para além do aspecto arquitectónico, o texto legal de classificação do Mercado como edifício de interesse nacional refere claramente o seu «valor urbanístico e sócio- cultural, enquanto edifício de referência na paisagem urbana da cidade do Porto e na vivência da população, constituindo um espaço privilegiado de encontro de gerações e classes sociais». O que a Mercado Urbano e a Câmara pretendem é oposto disto mesmo. Ficamos com a convicção de que a anunciada intenção de incluir de alguns dos tradicionais comerciantes serve apenas para criar a ilusão de que a CMP tentou que existisse um mercado de frescos, quando sabe antecipadamente que estes valores são impraticáveis para eles. Assim até poderá um dia argumentar que se não há mercado é porque os comercaint3es não quiseram…

Defendemos uma verdadeira reabilitação do magnífico edifício modernista do Mercado, o que implica a valorização do seu espaço interior mantendo as características genéricas actuais que justificam plenamente a sua classificação como Património. Defendemos também alguma inovação funcional mas sempre com o objectivo de manter e valorizar um Mercado de comércio tradicional de frescos.

Porto, 15 de Agosto, 2011

Mercado de Matosinhos

Em Matosinhos existe um mercado municipal, bem mantido e muito procurado. Este mercado é interessante de analizar até porque é obra da mesma equipa de arquitetos e engenheiro que fez o Bom Sucesso. Aqui ficam fotos de Pedro Figueiredo desse outro mercado.

Agentes culturais em defesa do Mercado

Mercado do Bom Sucesso, fotografia de Inês d'Orey, Janeiro de 2011

Diversos nomes de agentes da cultura subscrevem um manifesto pelo Mercado do Bom Sucesso. Transcrevemos aqui o seu texto e nomes de subscritores:

MANIFESTO ‘O Mercado do Bom Sucesso é Cultura!’

Somos agentes e produtores de cultura na e para a cidade do Porto.

Entendemos que cultura se faz de pequenas e grandes coisas na vida duma cidade.

De salvaguarda do património arquitetónico mas também de proteção do comércio de proximidade, sustentável, mais humano.

Indignamo-nos porque o Mercado do Bom Sucesso deve ser requalificado e mantido como equipamento público ao serviço da população.

Não queremos que seja convertido num complexo de shopping, hotel, parques de estacionamento e lojas de produtos alimentares de luxo.

Compreendemos as palavras de tantos cidadãos e cidadãs que apoiam esta causa e a que aqui damos voz:

«Eu nasci aí dentro desse majestoso monumento desta cidade e jamais aceitarei que a sua essência seja desvirtuada. É e será sempre o meu local de nascimento e a minha segunda casa actualmente, mas no coração será eternamente a minha primeira casa, a minha primeira escola de vida pelo muito que aprendi e pelo muito que “cresci” nesse grandioso espaço. Todos juntos seremos uma força indomável que não permitirá o assassínio deste símbolo da cidade».

«O património tem que ser cuidado, requalificado, não desvirtuado à sombra de uma pseudo-requalificação…»

«Um edificio que tanta história conta da cidade, que foi o local de compras da nossa infância. Não se rendam a modernices mas a manter a história e a beleza que nos transmite. Tenham capacidade conservação da história dum povo.»

«Sacudir responsabilidades com concessões trapalhonas deste e de outros espaços (a lista vai engordando) é não querer contribuir para um futuro melhor, nosso e dos que virão!».

«É esta integridade de espaço, luz, matéria e forma que desenha a identidade arquitectónica do Mercado do Bom Sucesso, edifício recentemente classificado como ‘monumento de interesse público’. Embora dizendo respeito a todos os cidadãos, permitam-me que afirme que os arquitectos se deverão situar na primeira linha deste protesto».

«[…] estaremos a defender o que é nosso: todo ele um cenário interior que nos transporta para uma atmosfera ainda não esquecida. Graças a uma arquitectura pensada, que hoje conserva a genuína convivência e proximidade entre pessoas, que resiste à frieza das relações humanas das grandes superfícies, e que tanto orgulha e caracteriza a gente do norte.»

O Mercado deverá ser revitalizado, dinamizado com possíveis actividades complementares à sua função, mas preservando a sua identidade de Mercado e de edifício público, de bem patrimonial cultural e humano da cidade do Porto.

Como cidadãos empenhados pretendemos que o edifício do Mercado continue «a marcar a sua época», através do respeito pelo património construído e classificado e que continue «marcar o seu fim» de mercado tradicional de frescos, sempre actual numa cidade viva.

ACdP – Associação de Cidadãos do Porto

Ada Pereira da Silva – professora e produtora cultural

Adelaide Teixeira – atriz

Ana Luísa Amaral – poeta

André Cepeda – artista/fotógrafo

António Capelo – ator

António Costa – programador

Carlos Romão – designer gráfico e fotógrafo; Blog A Cidade Surpreendente

Cassiopeia – estrutura de produção cultural

Colectivo Maldita Arquitectura

Isabel Lhano – pintora

João Fernandes – curador de arte contemporânea

Jorge Campos – professor e documentarista

Júlio Gago – presidente do CCT/Teatro Experimental do Porto

Manuela Bacelar – autora

Maria Gambina – estilista

Mário João Mesquita – arquiteto, professor de Arquitetura na FAUP

Mário Moutinho – ator, diretor artístico do FITEI

Pedro Abrunhosa – músico

Pedro Lamares – ator

Teatro Plástico – companhia de teatro

Teresa Carrington – artista plástica

Afinal a Direção Regional tinha o projeto! Foi tudo um lapso…

Confirmaram-se os nossos piores receios: acabou de ser divulgada notícia de que Direção Regional de Cultura do Norte aprovou o projeto Eusébios! (ver notícia do Porto24 aqui).

Temos de esclarecer que é já demasiada falta de transparência em todo o processo. Senão vejamos:

Em primeiro lugar – é manifestamente inaceitável que a responsável pelo serviço, Paula Silva, possa ter incorrido em lapso, como alega, dizendo agora que afinal tinha o projeto depois de o ter negado no final da semana anterior. Um projeto destes que dá entrada num organismo com responsabilidades de defesa do património não pode ser alvo de lapsos. O edifício demorou meses a ser classificado e agora demora alguns poucos dias úteis a ter projeto aprovado?

É caso para afirmar que a Diretora Paula Silva se é responsável por um lapso destes deveria demitir-se.

Em segundo lugar, e efetivamente, preservar fachadas é uma coisa; preservar edifícios e cultura é uma outra. É uma profunda desilusão ver responsáveis da cultura apadrinharem soluções de «fachadismo». O antigo regime ficou conhecido precisamente por ter um entendimento fachadista da cultura.
O próprio Ministério, na Portaria 250/2011 de classificação do edifício afirma: “A classificação do Mercado do Bom Sucesso fundamenta-se no seu valor arquitectónico, enquanto exemplar notável da arquitectura modernista dos anos 50, no seu valor urbanístico e sócio-cultural, enquanto edifício de referência na paisagem urbana da cidade do Porto e na vivência da população, constituindo um espaço privilegiado de encontro de gerações e de classes sociais.” Ou seja, há valor arquitetónico e há valor social. Pena é que as palavras publicadas a 25 de Janeiro não garantam coisa nenhuma.

E ainda vale a pena frisar que, como sempre afirmámos, embora a imprensa nunca tenha publicado, a intenção de colocar lojas gourmet é paenas um pretexto para fazer parecer que ainda existe um mercado. Ninguém por certo acredita que um qualquer shopping no Porto consiga manter 44 lojas destas a funcionar em concorrência dentro dum mesmo espaço. Nem ninguém tão pouco acredita que produtos gourmet sejam o mesmo que um Mercado de frescos tradicional.

Para quem é suposto saber de cultura, já são erros e lapsos a mais!

Note-se que a Eusébios por ter assumido pagar as (baixíssimas!) indemnizações às vendedeiras irá, nos termos do acordo que a Câmara fez, ficar cerca de 30 anos sem pagar nada pela concessão.

A tomada de posição do Ministério é mais uma razão para dia 19 de Maio às 17h estarmos todos em protesto à porta do Mercado.

O Mercado no Correio da Manhã

A 7 de Maio, no Mercado do Bom Sucesso decorreu uma demonstração de como fazer uma refeição mais barata e com produtos frescos. O local escolhido pelo chef André para fazer as compras e cozinhar foi este Mercado.

«Um dos motivos pelos quais o chef optou por escolher um mercado para fazer as compras é o facto de poder usufruir de vários produtos frescos e nutritivos. “É preciso ter em atenção os sítios onde compramos. Os produtos da época são mais baratos e o mercado tem duas grandes vantagens: preserva a nossa tradição e motiva os próprios vendedores”, lembrou o chef André.

Ler notícia completa aqui

Um processo cheio de enganos e falsas promessas

Deixamos aqui ligação para dois vídeos que podem dar conta de como o processo de despejo das comerciantes foi conduzido: para quem tinha sido prometido um espaço alternativo durante as obras e a quem tinham sido acenadas indemnizações, foram impostas condições de saída apenas. Em muitos casos os valores oferecidos foram equivalentes a um mês de faturação. E não foi aberta qualquer margem para negociação.

Portimão, um caso de Mercado vivo

Segundo notícia do Jornal do Algarve o Mercado de Portimão programou uma série de actividades para a época do Natal:

Mercado de Portimão, foto do Jornal do Algarve

«Espetáculos de música e magia, exposições, troca de brinquedos e muita animação vão “invadir” o mercado municipal de Portimão até ao dia 24 de dezembro. Para comemorar o terceiro aniversário, o mercado está também a oferecer promoções que recaem em produtos típicos como chouriço, queijo, azeite, vinho, batata-doce e medronho».

Este Mercado fez três anos em 11 de Dezembro.

E ainda:

«No espaço comercial do mercado será ainda inaugurada, no dia 15 de dezembro, a exposição “Natal + Ecológico e Solidário”, um projeto a cargo das crianças dos jardins-de-infância do agrupamento de escolas Eng.º Nuno Mergulhão e dos alunos da EB1 da Coca-Maravilhas, que reutilizaram materiais como garrafas de plástico e cartão».

Será disponibilizado um «sítio dos fresquinhos», uma caixa onde as crianças podem trocar brinquedos usados pelos outros que aí encontrem.

Haverá também campanhas de alimentação saudável e rastreios gratuitos – visão, audição e colesterol –  assim como animação musical.

Revitalizar bairros e cidades com mercados municipais

[Publicamos um texto de José Carlos Marques, sobre os Mercados:]

Mais uma achega para este nosso tema recorrente…

Num artigo intitulado “Comércio de rua; como é que se vai devolver gente às lojas da Baixa de uma cidade?”, (jornal Público de 5 de dezembro último, suplemento “Cidades”), com coisas interessantes e outras menos, destaco este fragmento:

“Mercados também ajudam
Bons mercados municipais podem ser uma estratégia para dar coesão e revitalizar os bairros e as cidades. Quem o diz é o consultor para a área dos mercados municipais Jordi Tolrà, responsável pela comunicação dos Mercats de Barcelona até ao ano passado. «Está comprovado que a remodelação de um mercado de alimentação melhoira o ambiente urbano em que se encontra, atrai novos tipos de comércio e novos moradores.»

A seguir cita-se João Rosado, presidente da Acral (Associação de Comércio e Serviços da Região do Algarve), que invoca os bons resultados da reabilitação dos mercados municipais de Loulé, de Faro e de Portimão nos últimos três anos. No de Faro instalou-se até um supermercado e uma loja do cidadão… Não fala do de Olhão, talvez arquitectonicamente o mais bonito dos quatro (era, pelo menos).

Conheci estes mercados algarvios na década 1980-90 quando eram vivíssimos, belos e animados. Receio, mas é talvez receio injustificado, que a “reabilitação” não tenha respeitado inteiramente a sua “alma”. Oxalá me engane, mas no de Faro dispensava-se bem um supermercado. Aliás a 300 metros há ou havia um ou mais do que um. O interesse do mercado era a abundância de hortícolas, legumes frescos e peixe. Não que, para não destruir a tal “alma”, seja necessário deixar tudo na mesma. O Bolhão não tem necessariamente que ser o folclore das peixeiras e das beijocas eleitorais aos caudilhos… É tudo uma questão de grau, peso e medida, de uma combinatória equilibrada entre o antigo e o novo em que é o novo que deve prestar vassalagem ao antigo sem perder com isso caráter.

O que é importante é que o centro de gravidade continue a ser o mercado de alimentação, de frescos e sempre que possível com abastecimento de produtores de proximidade, com outras coisas que girem em torno da alimentação, como restaurantes, tasquinhas simples ou requintadas, livros de cozinha e alimentos como vi em Madrid perto da Plaza Mayor, etc. E não centros comerciais convencionais (como tenderia a ser o do Bolhão no projeto em boa hora enterrado), ou hotéis low cost (Bom Sucesso), ou incubadora de ateliês de design (Matosinhos).

Na nossa perspectiva rur-urb, o mais importante de tudo é fazerem parte de um complexo de apoio e revitalização à produção agrícola local ou próxima, na medida do possível de orientação ecológica (sustentável, tradicional, biológica ou outros qualificativos que lhe assentem).

JCM

Comprar nos mercados é produzir menos resíduos

legumes, foto de monogatari, Flickr

Segundo notícia publicada pela Asociación VidaSana comprar num mercado pode reduzir resíduos até cerca de 70%, em comparação com compras análogas feitas em supermercados e grandes superfícies.

Este estudo da Fundación para la Prevención de Residuos y el Consumo Responsable e encomendado pela Agencia Catalana de Consumo foi apresentado em Maio. Tomou como base o cabaz de compras básico e analisou os resíduos de embalagens gerados com essas compras.

Aí se afirma que a utilização de vasilhame reutilizável nas bebidas poderia, só por si, reduzir 40% do total de resíduos nesse cabaz. Se os frescos fossem comprados a granel haveria uma redução de 10%.

O estudo adianta ainda que 5% do peso das compras corresponde a embalagens, representando 25% dos 4 milhões de toneladas de resíduos produzidos na Catalunha.

Abertura de mercados no feriado de 8 de Dezembro

cadeado, foto de cássio abreu, Flickr

Segundo nos informam da Associação de Feiras e Mercados do Norte de Portugal, os comerciantes do Mercado do Bolhão viram a sua pretensão de abrir hoje o mercado ao público ser recusada pela Câmara. Note-se que em vários países estrangeiros isto é prática comum, sobretudo numa época próxima do Natal.

A Câmara dá todas as facilidades às grandes empresas exploradoras dos centros comerciais enquanto só cria obstáculos ao comércio de proximidade.